
quarta-feira, junho 22, 2005( X ) Apto para a FunçãoUma das coisas mais falsas do mundo corporativo é a medicina do trabalho. E dentro da medicina do trabalho, a farsa maior é o Exame Médico Demissional. E lá vou eu participar da encenação. - Você tem alguma queixa? - Não. - Está fazendo algum tratamento? Tomando algum remédio? - Anticoncepcional. - Mas Bronquite? Asma? Diabetes? - (ahn???) Não. Aí, mede pressão (11/6), ouve coração, e eu olho para as letrinhas do exame de vista que não farei. Resultado: Apto para a função. Sim, porque é um formulário, e independente do motivo do exame, o resultado teve ser: apto, inapto ou inapto temporariamente. Então fico feliz por ter aptidão para a demissão. Enfim, convenções. Com este papelzinho e sem eu reclamar de nada, temos provas pra arquivar e usar no caso de eu querer processar a empresa por ter adquirido LER, ou sei lá o que... E seguimos fingindo nesta vida. Eu não tenho motivos sequer pra confiar num médico que eu nunca vi antes e que não tenho perspectiva nenhuma de ver depois. Omitir informações neste caso é cômodo para ambos, rapidamente se resolve a situação chata. Pelo menos pra mim. Pro cara que já estava injuriado às 9h40 da manhã de segunda eu não sei, mas aí azar o dele se ele ou o destino quis que ele fosse um médico trabalhista. E francamente, acho que a recepcionista devia ser mais bem paga que ele, ela marca muito mais X’s nos papéis e gasta muito mais tempo com os clientes, digo, pacientes. Kathia 10:16 AMquinta-feira, junho 16, 2005A saudade é o preço que se pagaFevereiro de 2005: Família na estrada, saindo de Mandaguaçu. Mãe: Foi aqui que eu vivi a melhor época da minha vida. Caçula: Nem foi, a gente nem tinha nascido ainda... he he he Mãe: Ah, mas é diferente, foi uma época diferente e eu fui muito feliz aqui, as amizades, o que a gente fazia... Tenho muitas saudades. Caçula: Sim, mas a vida é assim mesmo, quanto mais a gente anda, mais saudades sente. Mas se não tivesse andado, e passado por tantos lugares, não teríamos feito tantas coisas boas e tantas amizades. Junho de 2005: As falas não podem se inverter totalmente somente porque não acho que a melhor fase da minha vida tenha sido em Curitiba. Ainda não sei qual foi a melhor época dos meus 20 e poucos anos. Mas o pior ano eu sei muito bem qual foi. Foi 2000 e eu estava morando em Curitiba. De qualquer forma, já estou vivendo uma fase pré-nostálgica porque vou embora. Uma saudade antecipada do que eu acho que vai me fazer falta. E como estou me viciando em listas, aí vai uma: Saudades certas: Famílias Amigos Biblioteca Pública do Paraná XV de Novembro Milk Shake de Ovomaltine do Bobs Cinema Sabiás Fogaça da Feirinha da Osório Balança no Quintal Kathia 4:48 PMListasNunca fui organizada com as minhas coisas, e agora tenho poucos dias para me mudar de cidade. Já fiz isto uma vez, mas quando eu vim pra Curitiba, eu não tinha responsabilidades, não estava trabalhando, nem estudando. Sem falar que eu tinha a perspectiva de pelo menos no primeiro ano ir pra Umuarama quase uma vez por mês. Enfim, agora tenho muitas coisas para resolver, e estando elas desorganizadas, me darão um trabalhinho mais ou menos. A solução que me veio à cabeça foi: LISTAS. Agora não vivo sem olhá-las no mínimo umas 4 vezes ao dia. O que pode criar uma relação de dependência, confesso. O primeiro indício disto é que tenho uma lista das listas que devo fazer e checar! Kathia 4:46 PMsexta-feira, junho 10, 2005ComunicadoKathia Delari encerrará, no dia 27 de junho de 2005, a vigência, de 1954 dias, do estatuto “A Kathia está em Curitiba para estudar”. O motivo não será a ação, mas sim o lugar. A partir de 28 de junho, Kathia volta à cidade natal (Umuarama) e à casa materna (Rua Bararuba, 3860), fazendo jus aos dados do Censo que considera oficial para um estudante a residência onde os pais moram. Kathia 6:05 PMquarta-feira, junho 08, 2005EnsaiandoÀs vezes acho que não nasci para o dia. Nasci para a noite, mas não a aproveito. Ao contrário, a reprimo. Não quero ir na contramão da maioria. Prefiro contrariar a minha mão. E as minhas noites são dos devaneios, dos beijos que meus lábios não alcançarão, dos gritos que não sairão da minha garganta, do número de telefone que meus dedos não teclarão, do coração acelerado que minhas artérias não deixarão explodir, das resoluções que nunca acatarei... De todas as hipérboles que meu travesseiro parece sugar enquanto eu durmo, para que, ao amanhecer, eu ache tudo um imenso exagero. Talvez minha vida fosse mais intensa se tudo pudesse acontecer na minha cama, depois das 22h, entre quatro paredes, mas com todos os atores. Se o mundo girasse a meu redor. Mas como não deram a alavanca nem para Arquimedes, não vai ser pra mim. Então não vou mover o mundo de supetão, vou deixar que as coisas sejam tão rápidas e aparentes como a formação das montanhas. O risco é que, entre uma camada e outra, se formem fósseis que parecerão riquíssimos em detalhes daqui a algum tempo, ou corpos que se tornarão petróleo, energia em potencial na qual outrem acreditarão e botarão fogo. Não eu. Não eu que fico com a racionalidade do dia. Que não me arrisco na claridade e uso a escuridão para dormir. Kathia 3:25 PMterça-feira, junho 07, 2005Trilha sonora para a última semana de junhoCasa – com Lulu Santos Tô voltando – com Simone Por enquanto – com Cássia Eller À vezes nunca – com Engenheiros do Hawaii Fogão de lenha – com Chitãozinho & Xororó Esse é o lugar – com Fernanda Abreu Tô saindo – com Ana Carolina De volta ao samba – com Chico Buarque Preciso me encontrar – com Marisa Monte Diz que fui por aí – com Elis Regina e Jair Rodrigues Kathia 4:51 PMsegunda-feira, junho 06, 2005Verbetes CulináriosAlgumas definições de dicionário são praticamente receitas. Quinta definição do Michaelis Uol para Sonho: “Doce muito fofo, feito com farinha, leite e ovos, frito em gordura e polvilhado com açúcar e canela, ou passado em calda rala.” Mas só algumas, porque outras são vagamente etecétera... Segunda definição do mesmo dicionário para Feijoada: “Prato da culinária brasileira, preparado com feijão preto, toicinho, carne seca etc.” Outras são poéticas. Sorvete: “Designação dada a várias iguarias feitas de suco de frutas, cremes, leite, chocolate etc., temperadas com açúcar e congeladas sob a forma de neve.” Kathia 9:57 AMSeqüência de imagens e de fenômenos psíquicos que ocorrem durante o sonoFilmes não influenciam meus sonhos. Embora eu tenha alguns pesadelos com narrativas cinematográficos, com fugas e perseguições... Livros influenciam meus sonhos. Normalmente para que se tornem pesadelos. Ontem estava sem sono, li até às 2h00. Cem anos de solidão – Gabriel Garcia Márquez. Resolvi dormir... Sonhei que estava numa casa diferente, que era da minha mãe, mas aqui em Curitiba. No quarto estavam eu e minha irmã. Uma TV ligada. O Galvão Bueno narrando os gols da seleção brasileira, do jogo de ontem. Eu quase dormindo em uma cama do lado da janela. Olhei para os vidros e havia dois adesivos, ambos colados pela minha irmã. Pensei: “Que estranho eu estar aqui, numa casa que é minha, mas sem nada que seja meu, nem um adesivo na janela, nada que indique que moro aqui”. Aí, a influência do consciente, nos primeiros minutos do sono, me indicou que aquilo era um sonho. E voltei à minha cama, no quarto do sótão, com a porta fechada. Senti que havia alguém no quarto, um vulto muito próximo à mim veio para me ajeitar a coberta, gritei e acordei com muito frio. 2h30. Demorei mais uma meia hora para dormir de novo. Pensando nos filhos que Úrsula via voltar para sua casa sem se reintegrar a ela... Acho que não devia ler este livro numa época em que estou pensando tanto em voltar para casa. Tive pesadelos/sonhos mais estranhos que o normal quando li outros livros de realismo fantástico ou afins. Com destaque para “Metamorfose” do Kafka, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago, “O Mestre e a Margarida”, de Mikhail Bulgákov e “Incidente em Antares” de Érico Veríssimo. Ainda bem que não acredito em sonhos, premonições ou espíritos, pois adoro esses livros insanos. Kathia 9:42 AMquinta-feira, junho 02, 2005AusênciasDivagações sem muito nexo Lá em casa nunca vivemos todos juntos por muito tempo. Na verdade, foram os anos do meu nascimento até meus 5 anos. Depois um foi embora, outra também, aí outra, aí o um voltou... Vivemos sempre com alguém ausente. ... Quando eu tinha uns 6 anos, minha prima viajou nas férias. Brincávamos diariamente, logo, com uma semana eu já estava morrendo de saudades. Meu irmão não morava mais em casa, mas eu não brincava com ele todos os dias quando ele estava lá. Então a pergunta: “Mãe? É errado eu ter mais saudades da Lu que do Nunô?” ... Depois de 5 anos em Curitiba, me "acostumei"* com a ausência de familiares (pai, mãe, irmãos). A idéia de poder ver uma de minhas irmãs uma vez por semana ainda não está muita familiarizada (desculpem o jogo de palavra, saiu) em minha rotina. E olha que esta possibilidade está me rondando desde fevereiro. Mas, enfim, na sexta-recesso-do-feriado, saí com minha irmã**. Parque Barigui, Museu do Automóvel, Park Shopping Barigui. O mais lindinho de tudo: ela me apontar para a vendedora e dizer: “É a minha irmãzinha”. * Sobre se acostumar Eu sei, mas não devia de Marina Colassanti ** Irmã em questão: Cláudia Delari, a caçula da família, de dezembro de 74 a julho de 81, até que por um acaso, uma falha na prevenção, nasci e roubei seu posto. ![]() Kathia 11:06 AMQuase sãSó pra eu ter que me redimir publicamente Ontem cheguei em casa e uma fada, de aproximadamente 60 anos, olhos azuis e cabelos grisalhos, havia passado pelo meu quarto. As cortinas estavam escancaradas, a janela aberta, a cama arrumada, as roupas antes espalhadas, todas juntas em cima de uma cadeira, o chão impecavelmente limpo. E, para garantir um ambiente saudável, as cobertas haviam passado a tarde no varal, tomando sol, e a porta de tela estava fechava para manter longe os gatos e os pêlos que possivelmente colaborariam com minha rinite. Para completar, a avó alheia me abraçou, me abençoou, pôs a mão na minha testa para ver se eu não estava com febre e me desejou melhoras. Será que são de alguma ONG que acredita em políticas privadas de compensação? Kathia 10:45 AMquarta-feira, junho 01, 2005Estou gripada, aindaDe todas as propagandas enganosas, esta semana, eu queria que uma categoria não fosse só ilusão. A dos anti-gripais e afins... É sempre tão legal quando, no início da gripe, uma pessoa amada percebe na outra os primeiros sintomas e oferece as pílulas ou chás mágicos que em alguns segundos resolvem o problema. A disposição volta num piscar de olhos e não há tempo para lamentações. Kathia 11:49 AM |